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Entrevista com Roberth Steven Gutierrez Murillo – Coordenador do GT 11 – POLÍTICA, DESIGUALDADE E SOCIEDADE no CAED-Jus 2025

O entrevistado da vez é Roberth Steven Gutierrez Murillo.

Roberth Steven Gutierrez Murillo é Doutorando em Gerontologia Biomédica (Bolsista Programa de Excelência Acadêmica PROEX/CAPES) – Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Acadêmico de Medicina (2025 – 2030). Bacharel em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), com período de Estágio na Secretaria Estadual da Saúde do Estado do Paraná (Linha de Cuidados em Saúde do Idoso). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidad Europea del Atlántico (UNEATLANTICO/Espanha) com Linha de Pesquisa em Intervenção Sanitária. Especialista em Saúde da Família pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (UNILA). Diplomado Universitário em Gestão e Políticas de Saúde Internacional e Soberania Sanitária pelo Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais – CLACSO/Argentina (2021).

Organizador do livro AS MÚLTIPLAS EXPRESSÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA AS PESSOAS IDOSAS: Do silêncio ao enfrentamento, publicado pela EDUA, 2025. Senior Researcher do Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors Study – GBD, desenvolvendo análises globais de doenças prevalentes para a redefinição de políticas mais efetivas.

Nesse momento também é coordenador do GT 11 – POLÍTICA, DESIGUALDADE E SOCIEDADE.

Confira a entrevista:

1)  Quais foram as principais influências ou experiências que moldaram sua abordagem acadêmica até hoje?

Minha abordagem acadêmica foi bastante moldada por algumas influências muito importantes. Na minha graduação, professoras e professores tiveram um papel fundamental, me ajudando a entender o valor de uma educação crítica e reflexiva. Além disso, tive muito contato com os trabalhos de pesquisadores da área de saúde coletiva, como Cecília Minayo e Jair Paim, cujas pesquisas sobre os determinantes sociais da saúde me impactaram profundamente. Eles me ajudaram a perceber como fatores sociais e econômicos influenciam diretamente a saúde das pessoas. E claro, a obra de Paulo Freire, com sua ênfase no ensino libertador e na importância de uma educação que leve em conta as realidades e contextos dos alunos, também foi uma grande inspiração para minha maneira de ver e atuar no mundo acadêmico.

2) Como a sua experiência acadêmica prévia contribui para a sua visão sobre os desafios e oportunidades do seu GT no CAED-Jus?

Acredito que minha experiência acadêmica prévia contribui de forma significativa para minha compreensão dos desafios e das oportunidades do GT 11: Política, Desigualdade e Sociedade. Essa contribuição se dá, sobretudo, por uma formação crítica e reflexiva voltada às garantias sociais destinadas à população idosa — um grupo cuja vulnerabilidade demanda atenção qualificada e comprometida. No GT 11, buscamos fomentar pesquisas interdisciplinares que dialoguem com as políticas públicas e seus efeitos no enfrentamento das desigualdades sociais, abrangendo todos os grupos populacionais, mas com especial atenção àqueles em maior situação de vulnerabilidade. Nesse contexto, minha sensibilização para temáticas transversais que atravessam esse trinômio — política, desigualdade e sociedade —, aliada a um compromisso ético e científico com a produção acadêmica interdisciplinar, têm sido elementos fundamentais para minha atuação na coordenação deste GT, que considero de extrema relevância para os debates contemporâneos.

3) Como você enxerga o papel do CAED-Jus na formação de novos profissionais do direito e em outras áreas interdisciplinares?

Enxergo o CAED-Jus como um espaço formativo fundamental para o desenvolvimento de profissionais comprometidos com uma abordagem crítica, ética e interdisciplinar das questões sociais. Ao reunir pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, o CAED-Jus promove um ambiente de diálogo que rompe com as barreiras tradicionais da disciplinaridade e estimula a construção coletiva de saberes voltados à transformação social. Na formação de novos profissionais do direito, o CAED-Jus cumpre um papel essencial ao ampliar os horizontes da atuação jurídica, conectando-a com os contextos sociais, históricos e políticos nos quais as normas são produzidas e aplicadas. Essa perspectiva é especialmente importante quando pensamos no enfrentamento das desigualdades e na promoção de justiça social — temas que atravessam os GTs e fortalecem a visão de um direito mais sensível às realidades concretas da população. Além disso, ao fomentar a produção acadêmica interdisciplinar e o intercâmbio entre diferentes áreas, o CAED-Jus contribui para formar profissionais mais abertos, reflexivos e aptos a atuarem de maneira colaborativa diante dos desafios contemporâneos.

4) A temática do seu GT é fundamental para pensar o direito de maneira interdisciplinar. O que você concebe como principal desafio da sua temática?

O principal desafio da temática abordada pelo GT 11 está justamente na complexidade de articular, de forma efetiva, os múltiplos saberes que envolvem as dinâmicas sociais e as políticas públicas, especialmente no contexto da promoção de justiça social para os grupos mais vulneráveis. Pensar o direito de maneira interdisciplinar exige romper com uma visão normativa e isolada da lei, abrindo espaço para o diálogo com campos como a sociologia, a saúde coletiva, a assistência social, a economia e tantas outras áreas que contribuem para uma compreensão mais ampla das desigualdades. Outro desafio importante é reconhecer e enfrentar as estruturas históricas e institucionais que perpetuam essas desigualdades. Isso implica não apenas produzir conhecimento acadêmico, mas também buscar formas de incidir, ética e criticamente, nas práticas e políticas públicas. Além disso, promover esse diálogo interdisciplinar de maneira horizontal, respeitando os diferentes modos de produzir conhecimento, é uma tarefa que exige sensibilidade, escuta ativa e compromisso ético — elementos que, felizmente, vêm sendo cada vez mais valorizados nos espaços de discussão como o CAED-Jus.

5) De que maneira você acha que sua área de pesquisa pode impactar a transformação ou inovação no campo jurídico, especialmente em termos interdisciplinares?

A pesquisa em Saúde Coletiva pode ter um papel transformador e inovador no campo jurídico, especialmente ao integrar questões sociais e políticas ligadas à justiça e à democracia sanitária. Ao adotar uma perspectiva interdisciplinar, é possível compreender as desigualdades de forma mais abrangente, reconhecendo que os desafios de saúde não podem ser resolvidos apenas por uma ótica normativa, mas também por uma análise que envolva os contextos históricos, culturais, econômicos e sociais. A colaboração entre áreas como a sociologia, a economia, o direito e a saúde coletiva permite construir soluções mais eficazes para os grupos mais vulneráveis, considerando não apenas a legislação existente, mas as condições reais e dinâmicas em que as pessoas vivem. Ao explorar essas conexões, é possível desenvolver políticas públicas mais inclusivas e eficazes, que promovam um acesso igualitário à saúde e aos direitos fundamentais, combatendo desigualdades estruturais que afetam diretamente as populações em situação de vulnerabilidade.

6) Quais recursos ou estratégias você utilizou para manter-se atualizado(a) e relevante dentro da sua área de pesquisa?

A ciência é, por natureza, um campo dinâmico e em constante transformação. Novas descobertas, abordagens inovadoras e teorias emergentes surgem continuamente, ampliando e ressignificando nossa compreensão sobre os fenômenos que escolhemos investigar — aqueles aos quais dedicamos grande parte de nossas trajetórias acadêmicas. Acredito que a atualização constante é não apenas necessária, mas fundamental. A leitura sistemática de artigos, livros e outras fontes teóricas é uma prática que considero indispensável para acompanhar as discussões contemporâneas e refinar o olhar crítico. Além disso, busco diversificar minhas fontes de conhecimento. Tenho o hábito de ouvir podcasts e assistir vídeos de cunho reflexivo no YouTube, sempre produzidos por profissionais que considero qualificados e comprometidos com a produção de saber. Complemento essa prática com uma meta pessoal de concluir leituras mensais, o que contribui para manter o ritmo e a disciplina intelectual. Acredito que esses hábitos fortalecem meu desenvolvimento como pesquisador, pois me colocam em constante diálogo com diferentes perspectivas e me ajudam a manter a mente aberta, curiosa e inquieta — características essenciais na construção do conhecimento.

7) Para quem está começando a se envolver com projetos interdisciplinares, qual habilidade você acredita ser essencial para o sucesso nesse tipo de iniciativa?

Vejamos bem: a interdisciplinaridade, por si só, já nos convida a expandir o olhar para além das fronteiras da nossa “casinha”. Projetos interdisciplinares exigem, antes de tudo, uma postura de abertura — a escuta atenta do outro e a disposição genuína para compreender como diferentes áreas do conhecimento abordam os fenômenos que nos interessam. Minha recomendação é a de ouvir e refletir sobre as contribuições que outras disciplinas podem oferecer. Muitas vezes, colegas de formações distintas têm ideias brilhantes, capazes de complementar nossos esforços, ampliar o alcance dos resultados e, quem sabe, propor novas maneiras de fazer aquilo que, durante tanto tempo, acostumamo-nos a realizar de forma isolada. A disciplinaridade, embora tenha seu valor, tende a limitar nossas possibilidades criativas, mantendo-nos presos a um único modo de pensar. A interdisciplinaridade, por outro lado, abre um verdadeiro mar de possibilidades — e é nele que acredito estar o futuro da produção de conhecimento verdadeiramente transformadora.

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Vanessa Velloso

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